CAMINHOS DE PAPEL

segunda-feira, maio 09, 2005

ECONOMIA PARA PRINCIPIANTES


Minha entrada no mundo da economia deu-se de forma pitoresca e insuspeita, considerando-se que na época eu era um pirralho de seus nove, dez anos. Um tio meu presenteou-me com um cofrinho para que eu poupasse as minguadas moedas que ganhava de vez em quando.
Muitos daqueles de minha idade nem lembrarão do que era o Banco do Canguru-Mirim, mas essa foi a ferramenta que ganhei para aprender a conhecer o misterioso universo das finanças. Consistia num aparato do qual constava um canguruzinho de matéria-plástica, segurando uma bandeja. Quando se colocava uma moeda nessa bandeja, o bichinho se inclinava e a despejava num cofrinho, cuja abertura coincidia exatamente onde o níquel deveria cair. Era, convenhamos, uma forma divertida de poupar, embora eu nem lembre mais que fim levou o pecúlio ali acumulado.
Poucos anos depois, já freqüentando o ginásio, foi minha mãe que meu deu mais um incentivo. Toda segunda-feira entregava-me uma nota de cinco cruzeiros para que eu comprasse o lanchinho de mortadela da hora do recreio. Junto, a recomendação: se gastasse todo o dinheiro antes da sexta-feira, ficava sem aquele delicioso acepipe. Renegando sorvetes e doces, conseguia chegar ao fim da semana com uns trocados que, com um reforço da amorosa genitora, garantia a matineé dos domingos no saudoso cine Imperial.
Durante toda a vida criei e detonei várias cadernetas de poupança, pois meus conceitos de economia sempre diferiram daqueles aplicados pelos profissionais do ramo, que conseguem fazer o balanço de uma estatal saltar do vermelho para o azul num estalar de dedos.
Com uma freqüência que deveria ser bem menor, às vezes vejo nos jornais que nossos políticos se mobilizam para (desprezando esse detalhezinho técnico chamado índice de inflação) reajustarem seus justos proventos. Não que eles não mereçam; longe de mim pensar tal maldade. Apenas penso que muitos desses senhores, alguns até mais provectos do que eu, jamais, quando meninos, sentiram o prazer de criarem suas poupanças colocando uma moedinha na bandeja do canguru-mirim.
Sanduíche de mortadela na escola, então, nem pensar.



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