CAMINHOS DE PAPEL

terça-feira, outubro 18, 2005

DESARMAMENTO


Içami Tiba, psiquiatra, psicodramatista e educador:

"Mais do que com armas, é com conhecimento que se pode fazer uma
reviravolta neste país, que sobrevive, apesar da falta de ética de
parte grande dos nossos governantes.
Não é possível que o povo brasileiro seja mobilizado a ir às urnas
neste plebiscito - cujo sentido é ainda discutível - num momento
político de comprovados e vergonhosos "mensalões" e "mensalinhos",
demonstrativos de que boa parte dos políticos brasileiros visam mais o
seu próprio bem do que o cumprimento com honra, ética e sensatez, dos
cargos para os quais foram eleitos.
Me revolta um governo que promove um plebiscito, fingindo querer ouvir
o povo, mas com uma pergunta capciosa. Por que não perguntar se o
brasileiro gostaria de ver sua mulher e filhos estuprados e sua casa
arrebentada porque os "maus elementos" estavam armados e ele
desarmado?
Qual a diferença que existe entre tais "maus elementos" que nos
assaltam, armados com armas de fogo, e outros que tendo o poder nas
mãos, nos assaltam com uma caneta, nos tirando quase três meses de
cada ano trabalhado para lhes sustentar, enquanto a nossa família
praticamente passa fome?
O mal está no espírito das pessoas e não no que elas têm nas mãos.
Morre-se, também, em números assustadores, em acidentes de automóvel.
Não seria o caso também de se fazer um plebiscito para proibição da
venda de carros e combustíveis? Tudo dependeria de como se direciona a
pergunta à população: Você é contra as pessoas continuarem morrendo
ou matando por atropelamentos e acidentes de automóvel ? Então vote a
favor da proibição da comercialização de carros e combustíveis.
O que me deixa indignado neste país é a absoluta de falta de
transparência das autoridades. Manobras e campanhas são realizadas
para ocultar a falta de ética de nossos governantes - e nenhum país
sobrevive à falta de ética, com ou sem arma de fogo...
Me preocupa, ainda, saber quem será o grande beneficiário de mais
este gasto com este plebiscito. Muito mais útil e correto seria
utilizar esta importante verba para a educação.
Dos grandes problemas deste país não destacamos somente a falta de
estudos, cultura e educação, mas também o mau uso econômico e ético
que as elites políticas fazem deste povo. O povo brasileiro tem bom
coração. É um povo tão carente, necessitado e crédulo que bastam
algumas palavras bem ditas, que mexam com a sua emoção, basta que
recebam chaveirinhos, camisetas e bonés, que dentro do contexto de
falta de consciência política que impera, seja facilmente manipulado,
em detrimento de sua própria dignidade e condição de vida.
O governo, através de uma inteligente manobra de massas, mais uma vez
vende ao povo a idéia que são as armas de fogo as culpadas pela
violência e, numa eficiente estratégia de marketing, "mata dois
coelhos com uma cajadada só": a) demonstra estar adotando providências
contra a criminalidade; e b) esconde sua ineficiência e incapacidade
de lidar com a situação da violência desmedida que se encontra nosso
país;
Mais que isso, o governo afasta de si a responsabilidade e a transfere
ao povo, através de uma pergunta simpática à primeira vista, e pela
qual já vem fazendo uma campanha oculta há muito tempo. Assim, no
futuro, quando a violência e criminalidade não diminuírem, sempre
restará a resposta da elite política de que a vontade do povo foi
cumprida...
Mais uma vez, com a experiência de educador que tenho, reforço: Não
são esses tipos de medidas populistas que farão efeito. Somente os
livros, a educação a longo prazo, e a ética - palavra em falta no
vocabulário de nossos políticos - é que poderão mudar esse Brasil. "

Içami Tiba

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