CAMINHOS DE PAPEL

sexta-feira, novembro 11, 2005

TEMPO DE EMBEBEDAR POLÍTICOS

Se há alguma semelhança entre o belo filme iraniano Tempo de embebedar cavalos e certos setores da atual vida política nacional, ela pode ser analisada da seguinte maneira: no filme, aliás uma bela lição de como se faz cinema, desenrolava-se uma história sobre o povo curdo que, perseguido por todos os lados, tentava sobreviver numa região inóspita na fronteira Irã-Iraque, isto na época em que Saddan Hussein mandava e desmandava nesse último país. Na luta pela vida, aquela gente era levada a praticar contrabando entre as duas nações, atividade evidentemente ilegal, mas a única que lhes restava para tentar a sobrevivência.
Nesse expediente, era costume usar animais (na verdade, no filme são mulas), para transportar pesadas cargas pela região montanhosa entre aqueles dois países. Como isso ocorria também durante o rigoroso inverno, para que os muares resistissem ao tempo inclemente davam-lhes água misturada com álcool. Assim estimulados, os animais se tornavam dóceis e conseguiam (nem sempre) carregar seus pesados fardos através de trilhas geladas da fronteira.
No Brasil, também temos nossas mulas. Como as do filme, elas também são embebedadas e facilmente conduzidas por cabrestos manuseados por uma espécie de contrabandista encontrado quando se trata de defender interesses espúrios.
Nossas mulas não bebem água com álcool. A elas são dadas dinheiro ou cargos remunerados com o dinheiro público para que possam atender interesses mesquinhos. Uma vez satisfeitas suas necessidades básicas, tornam-se facilmente manipuláveis e pegam o rumo que seus condutores desejam.
Generalizar é perigoso e até injusto. No mundo da política ou ao seu redor ainda existem aqueles que honram suas obrigações e respeitam a vontade do cidadão comum, nem por isso menor. Infelizmente, uma parte considerável daqueles que freqüentam a esfera do poder vende seu lombo pronto para a carga por qualquer trocado ainda que para isso tenham de reverter uma posição assumida anteriormente.
É até aí que vai a semelhança das mulas da fronteira com os homens públicos de consciência negociável. Daí para a frente não dá mesmo para se fazer comparações, já que as mulas do filme, à sua maneira, têm uma certa dignidade.
(Este texto foi postado para lembrar a atitude de muitos Deputados Federais que, a exemplo das mulas do filme, venderam seu lombo para obter do Governo Lula, benefícios que este distribuiu para tentar abreviar o fim da CPI dos Correios. A relação dos oportunistas está no Blog do Josias de Souza, da Folha de SãoPaulo, de 11/11).

1 Comentários:

  • Às 2:24 AM , Anonymous Anônimo disse...

    É isso ai, Carlos Bruni.
    carmenrochacontos.blog.uol.com.br

     

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