CAMINHOS DE PAPEL

sexta-feira, maio 20, 2005

FRAJOLA E PIU-PIU


Ainda que a voz do povo afirme que gosto não se discute, tenho direito aos meus mesmo que possam ser discutíveis. Se compreendidos, melhor.
Diriam que não é normal ler o jornal do fim para o começo. Mas eu gosto de fazer isso, pois ao que me consta não estou alterando a ordem dos acontecimentos.
Gosto de bolacha maizena molhada no leite. Frio, de preferência.
Gosto de ouvir as tiradas de humor do Salomão Schwartzman, no seu Diário da Manhã, ainda que o meu humor é que nem sempre seja lá essas coisas logo cedo.
Ao contrário dos normais, gosto de comer a fruta depois do café matinal.
Ao acordar, gostava de abrir a porta da cozinha e ser festejado pela Bruna abanando o rabo de bom-dia. Gosto de lembrar que em seus treze anos de vida nunca descurou desse compromisso.
Encarar o fogão também me dá prazer. Faço um cação com legumes abafados no vapor, que já foi elogiado por várias pessoas. Mas nunca me considerei um chef.
E quem vai ao fogão, vai também à feira-livre. Gosto mesmo é de encerrá-la na barraca dos imperdíveis pastéis de Dona Mieko.
A tarde eu reservo para escrever alguma coisa pelo computador. Logo eu, que até há pouco tempo atacava de cronista na minha Olivetti portátil, inseparável companheira de guerra. Mas gosto das inovações.
Da escrita, vou para um passeio virtual. Ainda me dá um prazer imenso receber cartas de papel. No entanto, aos poucos vou entrando no século 21 e já estou até gostando de receber e-mails. Dirão vocês, pôxa, que cara atrasado; desde quando internet é novidade?
Curto assistir a desenhos do Piu-Piu e Frajola. Já gostei dos do Pica-pau, mas com a dublagem ficaram chatos. A voz esganiçada de Grace Sttaford era o seu charme.
Gosto de finalizar a tarde esparramado no sofá e ouvindo Schubert ou Mahler. De olhos fechados e com um copo de leite na mão. E sem bolachas para não sujar o tapete. Se não for esse CD, pode ser outro, de Mônica Salmaso e sua voz ligeiramente rouca e de uma musicalidade incrível (já a ouviram cantando Menina do amanhã de manhã?). Mas também pode ser Elis e Atrás da porta. Pura fascinação.
Gosto de brincar com os netos, mesmo sabendo que meu fôlego acaba bem antes que o deles.
Gosto de ver a luz do sol passando através do vidro canelado da janela da cozinha, repartido em tiras e iluminando o mármore molhado.
Gosto de receber a companheira quando chega em casa, cansada no seu ofício de ensinar, e dizer-lhe que amanhã será um outro dia.

2 Comentários:

  • Às 1:06 AM , Anonymous Anônimo disse...

    Carlos Bruni,

    Sua crônica tem sabor de café com leite, saborosa e não enjoa, v quer sempre.Um abraço pelo Grupo de Contistas de São Paulo- saudoso.
    Cármen Rocha

     
  • Às 7:50 PM , Blogger Leila Silva disse...

    Carlos,

    Gostei do humor nessa cronica...Nao se preocupe, de qualquer modo, 'de perto ninguem 'e normal', quem foi mesmo que disse isso? Caetano? Vixi!
    E eu tambem gosto de ler o jornal do fim para o comeco e, de vez em quando, ate as revistas eu vou folheando assim.
    E tem gente nesse mundo que nao gosta de Piu-Piu e Frajola? Esse 'e que nao sao normais...
    Abracos
    Leila

     

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