CAMINHOS DE PAPEL

segunda-feira, julho 04, 2005

A VERDADEIRA FIEL


(esta é uma crônica datada relatando um fato ocorrido há não muito tempo. Com a inserção de uma outra no blog Os cronistas (www.cronistas.blogspot.com), recentemente, e que tem certa relação com esta, resolvi publicá-la, ligando-as entre si).


Gosto de futebol e sou corinthiano, o que para os piadistas de plantão é uma contradição. Sou também do tempo em que o time trazia expoentes como Cláudio, Gilmar, Luisinho e Baltazar. Anos e anos depois, surgiram nomes como Sócrates, Casagrande, Wladimir, que também honraram a camisa mosqueteira com vitórias que arrastaram multidões aos estádios.
Não sei dizer se é desses tempos que sua torcida começou a ser chamada de Fiel. Ela tem, realmente, através dos anos mostrado um amor irrestrito às cores alvinegras e, não raro, podemos ver a bandeira mosqueteira flanando em la Bombonera, no Defensores del Chaco, ou em Belém do Pará. O amor pelo Coringão não conhece fronteiras.
Mas conhece desgostos. A campanha atual tem sido abaixo da crítica chegando ao ponto da humilhação de ver o Timão ameaçado pelo rebaixamento à divisão inferior do futebol paulista ou nacional.
Entretanto, não é sobre o time ou sua torcida que quero falar. Num domingão chuvoso, no qual a sorte do glorioso Corinthians, para evitar o rebaixamento às divisões inferiores do campeonato paulista, estava nos pés de seus jogadores, ironicamente estava também nos pés do rival São Paulo F.C.
O Timão estava em situação crítica. Ficara na dependência humilhante de uma vitória do tricolor sobre o Juventus, pois se este vencesse, o rebaixado seria o Mosqueteiro. E aí assisti a um outro drama, pois o Moleque Travesso acabou derrotado.
Nas arquibancadas molhadas do estádio onde haviam acabado de jogar tricolores e grenás, a televisão mostrou uma garota de seus catorze ou quinze anos. Em seu rosto, a expressão da mais pura desolação. Sentada nos degraus de cimento e vestindo uma camiseta juventina encolhia-se comprimindo os joelhos contra o peito. Parecia esperar por um terceiro tempo que jamais viria.
No rosto emoldurado por cabelos escorridos pela água que caía sem parar, desceu uma lágrima que ela tentou enxugar com o dedo indicador dobrado.
Nesse jogo, mesmo com o seu Juventus rebaixado para a segunda divisão, entre os pouquíssimos torcedores do time da Mooca ela simbolizava a verdadeira fidelidade.

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