CAMINHOS DE PAPEL

segunda-feira, janeiro 09, 2006

O ENCONTRO


Ela chegou ao restaurante um pouco mais cedo do que planejara. Conduzida pelo maître até a mesa reservada para duas pessoas, acomodou-se, contudo sem estar preocupada com o fato de ter chegado bem antes de sua companhia. Na verdade, havia concedido a si mesma o resto da tarde e queria aproveitar tudo o que de bom esse espaço de tempo pudesse lhe oferecer.
Descontraída, pediu um coquetel enquanto corria os olhos pelo ambiente que já trazia várias mesas ocupadas, não encontrando, como pretendia, nenhum rosto conhecido. Intimamente, sentiu-se aliviada, pois não estava mesmo querendo ser reconhecida por ninguém, possibilidade não de todo improvável visto ser ela uma figura de destaque no mundo dos negócios. Empresária bem sucedida, não obstante seus poucos mais de trinta anos, galgara com rapidez e competência os degraus que a levaram àquela posição. Num universo dominado pelos homens não só mostrou-se independente e enérgica, como granjeadora de amizades e antipatias na mesma proporção por não medir esforços para atingir seus objetivos,
A bebida veio e ela mal provou-a deixando na borda da taça a marca de seus lábios vermelhos. Olhou para o relógio, mais por hábito do que por impaciência, tomou mais um pouco um pouco do drink e voltou aos pensamentos, lembrando do ocorrido uma semana antes quando, num vernissage, acontecera o casual encontro.
A partir daí, mesmo para uma mulher acostumada a ser racional com suas emoções, o que se seguiu foram telefonemas de parte a parte, num dissimulado jogo de sedução. Estava criado de forma irreversível um certo ar de mistério e aventura. Sem compromissos afetivos, excitava-a o fato de sentir-se atraída por alguém que lhe passava esses sentimentos de uma forma inesperada e atrevida.
Não se sentia culpada por isso, nem mesmo por partir de si a iniciativa do convite para aquele almoço e esboçou um sorriso pelo juízo que fazia do ato; seria apenas um encontro para conversarem, foi o pensamento tentando convencer a si mesma. O rumo a que poderiam levar aquelas conversas, seria apenas uma natural conseqüência, concluiu inculpando-se secretamente.
Tomou outro tantinho do drink e de forma discreta olhou ao seu redor. O restaurante já estava mais movimentado e sabia que o encontro se daria sem maiores percalços, pois a ninguém seria dado o direito de suspeitar haver interesses outros que não fosse aquele um encontro de negócios ou apenas de amizade.
Uma mulher a olhou, tão somente curiosa quanto desinteressada. De outra mesa mais próxima, um homem sorriu-lhe discretamente, talvez na esperança algo que, ela sabia, jamais se realizaria.
Calmamente, voltou ao seu drink com um leve sorriso a moldar-lhe os lábios sensuais. Como mulher, sentia-se lisonjeada por ser notada, mas na hora imprópria. Tinha outros planos e, mesmo admitindo que o sujeito lhe parecia ser um cavalheiro, pensava no que o encontro marcado poderia lhe proporcionar. Telefonemas trocados durante a semana abriram espaço para muita indagações não concretizadas - nada ficara explícito – e ela queria saber até onde iriam os caminhos inimagináveis de uma sedução velada.
O proibido causava-lhe uma certa excitação. Sua atribulada vida profissional pouco espaço lhe deixava para emoções no campo dos sentimentos, mas essa, especificamente, era-lhe um desafio daquele tipo que nunca encontrara espaço para tais ousadias.
Olhou outra vez para o relógio e para o ambiente. Casualmente, o cavalheiro de instantes atrás voltara-se e os olhares se cruzaram. Ela voltou ao drink sem pensar em coisas outras que não fosse o encontro que estava prestes a acontecer.
Todo o resto, sorriu, eram meros detalhes.







2 Comentários:

  • Às 6:46 PM , Anonymous Anônimo disse...

    Oi Carlos, belo texto. Vim agradecer sua visita e deixar meus parabéns pelo Saboreando Palavras. Sinto-mme lisongeada em estar ao seu lado nesse livro.
    Beijão
    vera do val

     
  • Às 12:14 PM , Blogger Leila Silva disse...

    Eu tb gostaria de dar os parabéns pelo Saboreando palavras...
    Conto muito bem escrito, como todos os seus textos que tenho lido.
    Abraços

     

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