CAMINHOS DE PAPEL

terça-feira, julho 22, 2008

FAZENDO "ARTE"

O impulso e a cegueira fizeram com que apagassem a minha obra. Quem vai me indenizar?”
O autor dessa frase, Rafael Guedes Augustaitiz, formando do Centro Acadêmico de Belas Artes, bairro da Vila Mariana, São Paulo, reclama, esperneia, xinga, só porque funcionários daquela instituição (particular), apagaram as pichações que ele e outros delinqüentes promoveram na fachada e dependências internas do prédio do Centro, a título de “trabalho de conclusão de curso”.
Confesso: após uma primeira leitura, fiquei meio sem entender o que ele queria dizer, mesmo lembrando do que dissera anteriormente um “guru” cultural, cujo nome me foge no momento, que pichação é pura expressão da liberdade de comunicação.
Sendo assim, li novamente a matéria e a conclusão foi a mesma: o cretino acha que pegar tubos de spray e sair por aí vandalizando a propriedade particular ou um bem público é “expressão de arte”, tudo sob a alegação de que tratava-se de “ação performática e de protesto para discutir os limites e o conceito da arte” (palavras do próprio energúmeno).
Contudo, a estupidez, a ignorância e a prepotência nunca andam sozinhas e nem são fruto de uma só pessoa num determinado contexto; logo surgiu um abaixo-assinado em solidariedade ao imbecil, pedindo que se dê a ele a chance de se defender, com os seguintes argumentos: “Pichação (com ch mesmo, conforme o Aurélio – grifo meu) pode ser crime (?) (grifo da Folha de São Paulo), mas também é arte, e a faculdade perdeu a chance de surfar na vanguarda da mais moderna e atual de todas elas. Sempre foi assim. O MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova York) torceu o nariz para os trabalhos de Andy Warhol e Basquiat foi ridicularizado pelos mesmos acadêmicos que hoje o idolatram. A arte de verdade às vezes incomoda e demora a ser entendida”.
Lamentável também é ver a solidariedade prestada pelos grafiteiros Otávio e Gustavo Paldolfo, “osgêmeos”, como são conhecidos, cujo trabalho está exposto na Tate Modern, em Londres, e que tiveram a infelicidade de ver um de seus trabalhos – uma grafitagem num dos muros da avenida 23 de maio, - apagada por limpadores da prefeitura que não entendiam “aqueles rabiscos”.
Fica posto isto: grafite é uma coisa; pichação é outra, bem diferente. Se me pedirem para grafitar o muro de minha casa, eu permito. Se pedirem (como se pichadores tivessem esse resquício de civilidade) para pichar, eu soltaria os cachorros atrás deles.
Uma última colocação: eu duvido que algum dia, num futuro nem tão distante assim, Warhol e Basquiat sejam nivelados a um tal de Rafael Guedes Augustaitiz. Fosse eu um deles, e se vivo fosse, me mataria.

A título de informação:
1) a mesma faculdade outorgou, em abril, ao prefeito Gilberto Kassab, o título de professor honoris causa, pela implantação do programa Cidade Limpa.
2) No dia do atentado, cerca de 40 jovens chegaram durante a noite – alguns mascarados, como convém a qualquer bandido – e perpetraram aquele ato. Brigaram com os seguranças do prédio até a chegada da Polícia Militar e sete dos vândalos foram presos, incluindo-se aí o mártir Rafael.

3 Comentários:

  • Às 11:11 AM , Blogger Mary Joe disse...

    Acho incrível o direito que as pessoas tem de se arvorar sobre o direito do outro... as vezes temo que a barbárie tome conta...

     
  • Às 1:59 PM , Blogger Unknown disse...

    Carlos. Você é uma pessoa inteligente, mas fez julgamentos perigosos. Fazer pré-julgamentos sobre arte sempre foi perigoso. Já viu um livro que se chama Birth of Grafitti? Existem muitas semelhahanças entre aquilo que era feito em NY e a pixação (desculpe, dicionário). Não estou dizendo que é certo. É um crime, segundo a lei brasileira. Assim como é crime tirar carteira de estudantes falsificada. Mas convém ser tolarante, às vezes.

     
  • Às 4:46 PM , Blogger Carlos Bruni disse...

    Um sujeito como eu, que paga impostos e espera, no mínimo, que a população receba educação (além da que deveria receber em casa), deve ser um útópico de carteirinha. Um sujeito como eu, que tem 30 metros de muro em sua casa e, por vê-lo coberto de pixações (desculpe, Michaellis, mas ainda fico com o Aurélio e o Houais)acabou plantando Hera em toda a sua extensão, para evitar esse crime (sim, pois está tipificado na Legislação brasileira).
    Devo, então ser tolerante, ressaltando que o portão de minha garagem está coberto dessa arte?
    Desculpem se radicalizo, mas umas boas chibatadas, tal como ocorre em alguns países, seriam de bom tamanho.

     

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