CAMINHOS DE PAPEL

segunda-feira, junho 12, 2006

ELA E ELAS



Mais uma vez, e com justo motivo, venho render homenagens a uma cantora. Já escrevi antes sobre Mônica Salmaso, Ná Ozzeti, Teresa Cristina, deixando em segundo plano artistas do sexo masculino. Há uma razão; elas, cada qual à sua maneira, têm um quê a mais que os marmanjos não têm. Claro, há bons cantores que valorizam suas interpretações com nuances que particularizam cada artista e lhes dá o merecido destaque.
Com elas é diferente. Posso dizer, sem medo de errar, que muitas cantoras estão um degrau acima no nível de apresentação e encantamento que têm para a platéia.
Foi isso que constatei ontem à noite, no SESC Pompéia, assistindo a apresentação de Zizi Possi. Não é de agora que a conheço e sempre a tive na conta das melhores artistas do cenário musical, embora percebesse que certos limites surgiam na carreira, como por exemplo, sua fase italiana, agradável de se ouvir, mas não muito distante dos lugares comuns que cercam algumas profissionais.
Ontem, tive de rever todos os meus conceitos sobre ela. A apresentação foi um primor de trabalho, artístico e profissional. Vi surgir no palco uma cantora que passou por uma reformulação (talvez fosse melhor dizer, descobriu-se por inteira), numa apresentação muito próxima da perfeição.
Não é difícil explicar: ela própria, ao início do espetáculo, disse estar satisfeita em se apresentar com seu pessoal (músico, técnicos de som e luzes, e direção), fato a levar a quase perfeição aos mínimos detalhes. À parte da competência da artista, talvez tenha sido essa a pedra de toque do espetáculo, o que permitiu avaliá-lo em toda sua plenitude.
A noite de Zizi Possi foi a de uma artista na mais completa acepção do termo. Foi, ao mesmo tempo, cantora e atriz. O palco do SESC Pompéia tem a característica de possuir duas platéias, voltadas de frente uma para a outra, situando-se o palco entre elas. A cantora soube se posicionar nesse espaço e o ritual de gestos e expressões, sem exageros, encaixou-se quase como um balé às músicas que interpretava.
E o repertório, pièce de résistence do espetáculo, aberto de forma magnífica com Melodia sentimental, de Villa-Lobos e Dora Vasconcelos, seguiu com músicas como Explode coração (um banho de sensualidade), Sol e chuva (Chico Buarque e Edu Lobo, imbatíveis), Fly me to the moon e, surpreendentemente, Uirapuru, do paraense Waldemar Henrique, maestro, pianista e compositor, a qual minha mulher, emocionada, cantarolou junto, pois lembrou-a dos tempos da Escola Normal Padre Anchieta, onde o coral de alunas a apresentava.
Por quê Ela e elas ? Vou apenas ser repetitivo: cantoras como Zizi Possi estão sempre um patamar acima de seus congêneres masculinos. Conformemo-nos e aplaudamos.

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