CAMINHOS DE PAPEL

domingo, novembro 19, 2006

INJUSTIÇA!

Vou cair na redundância outra vez: Mônica Salmaso é ótima.
Tive o privilégio de assistir, ontem, a mais um show dessa fenomenal artista e, de novo, sair recompensado. O final, com ela cantando “Suíte dos pescadores”, de Caimmy, foi (desculpem o lugar-comum) a cereja do bolo. O que explica esse seu êxtase? Talvez sua gravidez, que parecia fazer explodir toda sua beleza interior, transformada em notas delicadas e afinadas.
A injustiça fica por conta de não a vermos na grande mídia radiofônica e televisiva. Melhor assim, pois não correremos o risco de vê-la, por exemplo, como na tarde de hoje, no programa do Faustão, que “deslumbrou” a platéia com vários números do... Calcinha Preta (e suas letras, digamos, esdrúxulas).
O chantilly da maionese.

quinta-feira, novembro 09, 2006

GEOGRAFIA



Iraque,
Irã e Afeganistão.
Palestina,
Israel e Paquistão.

O Atlas que, de menino, eu conhecia
era azul.
O de hoje é de um vermelho
que me agonia.



(poema selecionado pela Secretaria de Cultura de Porto Alegre para fazer parte do projeto "Poemas no ônibus", onde trinta trabalhos estarão em trens e ônibus daquela cidade em 2007)

quarta-feira, novembro 01, 2006

YES, NÓS TEMOS PINGÜINS


O Brasil é bonito por natureza, abençoado por Deus, etc, etc. Na contrapartida de tudo de bom que ocorre por aqui, temos também, e em escala sempre crescente, a mania de adotarmos costumes e valores que ocorrem em outros países. Não que isso seja tão ruim assim; apenas não temos, ou parecemos não sentir isso, ou ainda pouco nos lixamos para isso, esse tipo de coisa vem se entranhando no nosso âmago, muitas vezes reduzindo valores que sempre enriqueceram nossa cultura.
Não vou ao ponto, por exemplo, de criticar ritmos estrangeiros, pois música é um patrimônio universal, independentemente de sua forma, conteúdo e apresentação. O rock, por exemplo, explodiu como um fenômeno irreversível em quase todo o mundo (eu até diria, todo o mundo, mesmo que ainda reprimido em certos lugares).
Fôssemos condenar toda e qualquer manifestação alienígena e condenaríamos Mozart e Piazzola ao fogo do inferno. Menos mal que isso não ocorra.
Todavia, outras manifestações de fora, ganham um tamanho maior do que a encomenda. O chamado rock country veio, se enxeriu em nosso meio, e a verdadeira musica caipira, que já vinha se arrastando em pernas bambas, foi ainda mais para baixo em cercada de delírios dos neo-sertanejos com suas botas e chapéus texanos. Passeando pela festa do Peão, em Barretos, é possível fechar os olhos e imaginar-se no Rancho JR, em Dallas (vide a série na TV).
O folclore tem seu dia no calendário, mas pouca comemoração. Pelo menos não a vemos na medida em que seria justo senti-la. Sacis, Boitatás, e outros seres com as nossas cores não ganham a importância que mereciam.
Danças e outras manifestações que se perdem no tempo mas persistem pelo interior do país, sobrevivem graças a gerações mais velhas, que às duras penas conseguem passar seus valores àquelas mais jovens, mas numa quantidade preocupante. De quebra, ainda sofrem uma repressão nem tão sutil assim, de setores dito religiosos que as colocam como manifestações do demo.
O Carnaval, que não liga para aqueles que discursam contra, sobrevive com bastante força, no Nordeste principalmente. No Sudeste, virou indústria. Mas, façamos uma concessão; ainda tem boa dose de participação popular, embora não saibamos até quando o marketing dará esse espaço.
Quando menos se espera, entretanto, (ou já deveriamos esperar, sim), damos de cara com uma data chamada Halloween, que importa festejos de outras plagas para nos ensinar o que é tradição — lá deles. E tomem bruxas, duendes e abóboras inseridas em nossa cultura sem que tenha sido convidados.
Do Natal, falar o quê? A data já se enraizou em nossos costumes, com papais-noéis gordos e vestidos para enfrentar um severo regime de emagrecimento. Enfim, algumas coisas temos de aceitar, pelo menos em nomes das crianças. Ah, só para lembrar, festeja-se o nascimento de Cristo também.
Porém, extrapolou-se até aí: num shopping perto de onde moro, a decoração natalina nos mostra o bom velhinho, pinheirinhos, neve falsa e... pingüins.
Santas Renas! Como é que conseguiram fazer essas simpáticas aves saírem de seu sossego no Pólo Sul e aparecer lá no Norte?