CAMINHOS DE PAPEL

domingo, junho 18, 2006

OS DE CIMA E OS DE BAIXO



Não foram poucas as vezes que ouvi a frase “cada povo tem o governo que merece”. Também não foram poucas as ocasiões nas quais essa assertiva calou fundo em mim, pois se lá em cima, ou seja, no patamar onde trafegam os homens públicos que conduzem os destinos de todos nós, temos tomado conhecimento, diariamente, de atos, manobras, discursos e toda uma gama de atitudes que condenariam ao fogo do inferno esses assim denominados representantes do poder constituído, aqui embaixo, onde estão aqueles que os elegeram, o clima não é melhor e, desgraçadamente, a cada dia tomo conhecimento de fatos que ainda me estarrecem, não obstante o não pouco tempo em que vivo neste mundo, ingrato mundo.
A malandragem brasileira já se institucionalizou. Dar um golpe, passar a conversa em algum incauto, estacionar acintosamente onde é proibido parar o carro, furar a fila ou então, na maior cara dura, usar a fila de idosos ou deficientes físicos, quando não se é nem uma ou outra coisa, já se tornou coisa corriqueira Eu poderia desfilar um sem número de ocasiões em que o jeitinho brasileiro (eufemismo para explicar a falta de educação, de decoro, ou sem-vergonhice pura) se manifesta.
Um exemplo desses eu tive ontem quando fui à biblioteca do bairro à procura de uns livros. Pedi à atendente que me indicasse onde estava “Grandes Sertões”, leitura que devo a mim mesmo há séculos e finalmente (já que terei uma semana de sossego num lugarejo do interior), iria conhecer.
A resposta foi a de que o livro (o único exemplar daquele próprio municipal) estava emprestado. “Pelo menos há quem venha procurar pelo livro”, pensei como uma compensação.
Pedi então que me orientasse na busca de “A montanha mágica”, de Thomas Mann, já que, tendo consultado o fichário (na biblioteca não há nem nunca houve computadores), soube que havia seis exemplares nas prateleiras.
Havia? Havia nada. A explicação da simpática senhora foi a de que, tendo caído forte chuva num fim de semana, goteiras sobre as estantes estragaram esses e outros livros, que não foram, desde então, repostos. Isso considerando-se que a forte chuva de fim de semana ocorrera no verão e estamos às portas do inverno.
Francamente desanimado, comentei com ela como é que queriam que os jovens tivessem acesso à leitura, se a biblioteca passava por um estado desanimador desses.
“O senhor pensa que os jovens se interessam pelos livros quando não são obrigados a lê-los? Se realmente se interessassem, não fariam isso aí”. E mostrou-me uma caixa com mais de quinhentas fichas de livros emprestados há meses, e que não foram mais devolvidos.
“E sabe o que mais?” continuou. “Temos ‘n’ livros com páginas arrancadas, ou seja, aquelas que interessam a quem procura por determinada matéria. Eles nem têm ficha de inscrição aqui; apenas entram, arrancam o que lhes interessa e vão embora. Isso, quando não levam o livro debaixo da blusa”.
Diga agora, você, leitor, o mau exemplo vem de cima, sai de baixo, ou é tudo uma geléia geral? Votar em “A” ou “B”, nas próximas eleições mudará alguma coisa?.

quarta-feira, junho 14, 2006

PROFECIA

RUBEM ALVES (folha de são paulo, 13/6)

A vaca e a ursa pastarão juntas...


"São Francisco usava o fogo sagrado para aquecer a alma, Torquemada o usava para churrasquear hereges. Fiquei pasmo com a fotografia que a Folha publicou: o Lula e o Quércia, apertando as mãos, sorridentes, como grandes amigos, aliados num projeto comum para o Brasil! Quem diria! Mas o pasmo do meu rosto logo se desfez e foi substituído por um sorriso de felicidade! Dei-me conta de que ali, na fotografia, estava o cumprimento de uma antiga profecia que anunciou que, no fim dos tempos, "a vaca e a ursa pastarão juntas..." (Isaías 11.7). Deus cumpre o que promete. Mas os meus recursos hermenêuticos me falham: não consegui identificar nem a vaca nem a ursa..."
Meu comentário:
(Para quem não lembra, Quércia é aquele mesmo a quem Lula chamou de "ladrão de carrinho de pipocas", anos atrás)
Espero o de vocês.

segunda-feira, junho 12, 2006

ELA E ELAS



Mais uma vez, e com justo motivo, venho render homenagens a uma cantora. Já escrevi antes sobre Mônica Salmaso, Ná Ozzeti, Teresa Cristina, deixando em segundo plano artistas do sexo masculino. Há uma razão; elas, cada qual à sua maneira, têm um quê a mais que os marmanjos não têm. Claro, há bons cantores que valorizam suas interpretações com nuances que particularizam cada artista e lhes dá o merecido destaque.
Com elas é diferente. Posso dizer, sem medo de errar, que muitas cantoras estão um degrau acima no nível de apresentação e encantamento que têm para a platéia.
Foi isso que constatei ontem à noite, no SESC Pompéia, assistindo a apresentação de Zizi Possi. Não é de agora que a conheço e sempre a tive na conta das melhores artistas do cenário musical, embora percebesse que certos limites surgiam na carreira, como por exemplo, sua fase italiana, agradável de se ouvir, mas não muito distante dos lugares comuns que cercam algumas profissionais.
Ontem, tive de rever todos os meus conceitos sobre ela. A apresentação foi um primor de trabalho, artístico e profissional. Vi surgir no palco uma cantora que passou por uma reformulação (talvez fosse melhor dizer, descobriu-se por inteira), numa apresentação muito próxima da perfeição.
Não é difícil explicar: ela própria, ao início do espetáculo, disse estar satisfeita em se apresentar com seu pessoal (músico, técnicos de som e luzes, e direção), fato a levar a quase perfeição aos mínimos detalhes. À parte da competência da artista, talvez tenha sido essa a pedra de toque do espetáculo, o que permitiu avaliá-lo em toda sua plenitude.
A noite de Zizi Possi foi a de uma artista na mais completa acepção do termo. Foi, ao mesmo tempo, cantora e atriz. O palco do SESC Pompéia tem a característica de possuir duas platéias, voltadas de frente uma para a outra, situando-se o palco entre elas. A cantora soube se posicionar nesse espaço e o ritual de gestos e expressões, sem exageros, encaixou-se quase como um balé às músicas que interpretava.
E o repertório, pièce de résistence do espetáculo, aberto de forma magnífica com Melodia sentimental, de Villa-Lobos e Dora Vasconcelos, seguiu com músicas como Explode coração (um banho de sensualidade), Sol e chuva (Chico Buarque e Edu Lobo, imbatíveis), Fly me to the moon e, surpreendentemente, Uirapuru, do paraense Waldemar Henrique, maestro, pianista e compositor, a qual minha mulher, emocionada, cantarolou junto, pois lembrou-a dos tempos da Escola Normal Padre Anchieta, onde o coral de alunas a apresentava.
Por quê Ela e elas ? Vou apenas ser repetitivo: cantoras como Zizi Possi estão sempre um patamar acima de seus congêneres masculinos. Conformemo-nos e aplaudamos.

quinta-feira, junho 08, 2006

CONCURSO LITERÁRIO



VI CONCURSO LITERÁRIO “PRÊMIO CLEBER ONIAS GUIMARÃES” – 2006
PARA AS MODALIDADES CONTO, CRÔNICA E POESIA LIVRE

R E G U L A M E N T O

O Conselho Comunitário de São Paulo, entidade sem fins lucrativos e fundada há 52 anos, torna público que a partir de 30/06/2006 até 31/8/2006, estará recebendo inscrições dos interessados em participar do VI Concurso nas modalidades Conto, Crônica e Poesia Livre, Prêmio “Cleber Onias Guimarães”, obedecidas as disposições a seguir:
1 - O concurso premiará os três primeiros colocados (um primeiro lugar e duas menções honrosas), divididos em duas categorias: Juvenil (de 14 até 18 anos) e Adulto (acima de 18 anos). Ambas serão subdivididas em duas regiões: LOCAL, para concorrentes da Capital de São Paulo e NACIONAL, para concorrentes de cidades da Grande São Paulo, do estado de São Paulo, outros estados e exterior (desde que escrito em língua portuguesa.
2 - Cada concorrente poderá, dentro de sua categoria, participar de apenas uma das modalidades e o trabalho deverá ser inédito.
3 - O trabalho deverá ser enviado em 3 (três vias) datilografadas em folha sulfite, espaço 2 ou digitadas em folha A4, Fonte Times New Roman ou Arial, espaço l,5 e tamanho 12. Número de páginas permitidas: Contos e Crônicas: até três. Poesia: até duas. Não serão aceitos trabalhos manuscritos.
4 - Junto ao título do trabalho mencionar o pseudônimo utilizado.
5 - Dentro do envelope com o trabalho, deverá constar um outro menor, lacrado, contendo na parte externa o título da obra, modalidade, pseudônimo, região e categoria à qual concorre. Dentro deste, uma folha datilografada ou digitada, com a identificação do candidato: nome sem abreviações e endereço completo, telefone, e-mail (se houver) para contato, data de nascimento (obrigatória), currículo literário resumido, informando ainda como tomou conhecimento do concurso. Também deverão constar o título do trabalho, o pseudônimo adotado, modalidade e a categoria a qual concorre.
6 - No envelope externo, cujo tamanho não deverá ser menor que A-4, mencionar na frente a categoria do concorrente, modalidade da qual está participando e região a qual pertence. A falta dessas informações resultará na exclusão do concorrente. Caso seja enviado pelos Correios, deverá ter na parte do remetente identificação alternativa, ou seja, nome e endereço que não sejam aqueles do concorrente.
7 - No caso de envelopes enviados pelos Correios será observada a data da postagem.
8 - Fica vedada a participação de membros do Conselho Comunitário, seus familiares e parentes de 1º grau, bem como funcionários das entidades que vierem a apoiar o evento.
9 - O primeiro colocado de cada modalidade e categoria receberá um troféu alusivo ao evento. Os segundo e terceiro colocados de cada modalidade e categoria, serão contemplados com um diploma cada.
10 -O envio do trabalho pressupõe a aceitação deste regulamento por parte do concorrente que, todavia, permanece de posse da autoria, mas autorizando seu eventual uso pelos organizadores sem quaisquer ônus para os mesmos.
11 -As decisões da Comissão Julgadora serão irrecorríveis. Casos não previstos no presente regulamento serão decididos pela Presidência do Conselho Comunitário.
12 -Os resultados serão publicados através da imprensa local ou outros meios adequados aos organizadores, em data a ser divulgada pelos organizadores. Apenas os premiados serão comunicados por carta ou e-mail e deverão confirmar o recebimento da notificação. No caso de impossibilidade do comparecimento à premiação, poderão enviar representante.

O(S) TRABALHO(S) DEVERÃO SER ENVIADOS PARA O SEGUINTE ENDEREÇO:
CONSELHO COMUNITÁRIO DE SÃO PAULO
PRAÇA SANTA TEREZINHA, 49 - SÂO PAULO - CEP 03308-070
MENCIONAR: AOS CUIDADOS DE MALU - VI CONCURSO LITERÁRIO
INFORMAÇÕES: (011) 6198-2683 (Malu) / E-MAIL: folhassoltas@uol.com.br (Carlos)

quarta-feira, junho 07, 2006

AS BOLHAS! AS BOLHAS!



Estava eu no meu boteco preferido saboreando uma loira estupidamente gelada, quando chegou o Arnesto, sempre ligado nas questões nacionais, principalmente naquelas que mais de perto tocam o povo brasileiro. Conversa vai, conversa vem, perguntei-lhe:
- Você acha que o Lula leva já no primeiro turno?
- Veja bem: Parreira não pode confiar no quadrado mágico. Ronaldo não está 100 % e isso implica em sobrecarga no meio de campo.
- Certo. Mas, e os sanguessugas? Serão punidos ou acobertados como no caso do mensalão?
- Não sei, não. O miolo da defesa precisa se aprimorar nas bolas altas. Nossos adversários têm bons cabeceadores.
- Afinal, as autoridades cederam ou foi o mesmo o PCC que julgou melhor parar os ataques?
- Boto muita fé no Ronaldinho Gaúcho. Faz um bom tempo que não aparecia alguém juntando técnica e alegria de jogar. Ele vai arrebentar a boca do balão.
- O que você acha dessa invasão da Câmara do Deputados pelos integrantes do MLST?
- Temos o Robinho na reserva. Não sei se é uma boa alternativa, porque Copa do Mundo é de uma responsabilidade das maiores. E eu não sei se ele já está preparado pra e enfrentar essa barra.
- Será verdade o que dizem por aí? Falam as más línguas que Aécio Neves e José Serra não estão nem aí para a campanha do Alckmin, pois a intenção deles é deixar o Lula levar, já que o barbudo não poderá concorrer em 2010 e eles não querem enfrentar o Geraldo naquela ocasião.
- Não tenho nada contra o fato de os jogadores saírem, em suas folgas, para se divertir um pouco. É preciso relaxar, né? São 180 milhões de torcedores pesando em seus ombros. Na hora H, não falharão, tenho certeza.
- O que me diz de José Dirceu? Deveria estar na sombra, como outros cassados, mas está aparecendo muito na mídia, inclusive, dizem, intermediando a venda da Varig.
- Vai arrebentar. Tenho certeza que vai. Kaká vai ser a estrela da Copa. Não tem o carisma de um Ronaldinho, mas é técnico, competente e não foge do pau.
- Suzanne von Richittofen será condenada? Ou só os irmãos Cravinhos é que pagarão o pato?
- Não tenho dúvidas. Cafu, apesar da idade, será o condutor da meninada nessa jornada. Tenho muita fé nesse cara.
- Bem, foi um prazer bater um papo com você. Como sempre, suas intervenções foram elucidativas. Bem se vê que está ligado nas grandes questões nacionais. É de brasileiros assim que precisamos.
- Peraí! Peraí! Nem tudo está legal, não. As bolhas! As bolhas! Se não secarem as feridas das bolhas nos pés do Ronaldo, não sei, não. Teremos um grande desfalque no ataque. Caramba! Será que você não percebe a seriedade da situação?
- Certo. Tim, tim. À nossa.

sexta-feira, junho 02, 2006

GERSON REDIVIVO

Vocês se lembram daquela famosa propaganda de cigarros, cujo bordão pegou tanto que é usado até hoje?
Pois é; "o negócio é levar vantagem em tudo", dizia o célebre jogador da seleção brasileira de futebol. A cada dia se vêem por aí "n" exemplos de aproveitadores que levam essa máxima ao pé da letra. Há, no momento, uma propaganda de uma operadora telefônica, onde aparece o simpático Ronaldinho Gaúcho, numa moderna versão do famoso Canhotinha, e que anuncia um telefone cujo toque lembra um hino de guerra futebolístico "êêê... sou brasileiro... com muito orgulho..." etc, etc, etc.
Nela, o telefone da propaganda toca nas horas mais impróprias, o que já virou hábito na nossa sociedade telefônica. A propaganda termina com o jogador chegando a um restaurante e pedindo, via telefone, para alguém chamar dalí a pouco. Como nos exemplos anteriores dessa propaganda, irá perturbar o ambiente. E a propaganda quer nos fazer crêr que isso faz parte do bom humor brasileiro.
E em bom humor também, pensaram nosso geniais publicitários ao criarem aquela propaganda de uma cerveja, onde uma seleção argentina tenta fazer um gol numa trave móvel. Para encurtar o papo, mais um retrato da nossa inimitável arte de trapacear e ainda dar risada.
E já que é para dar risada, vamos lá: investigar a máfia dos sanguessugas? Não, o Congresso não quer. Chamar Daniel Dantas para depôr? Nem pensar. Manter Suzzanne Richttofenn presa? Pra quê? Ela não representa perigo para a sociedade (alguém aí dormiria com ela?).
Nem vou me alongar, pois só no campo político daria para se ver que estamos a caminho do fundo do poço e os próximos anos prometem ser "dourados" (no sentido de enriquecimento ilícito, se me permitem a piada). E não falo só do partido que está no poder; os da oposição estão dando um show de mediocridade e incompetência. Tirar um e colocar o outro seria trocar seis por meia duzia, deduzida as comissões de praxe.
Mas não quero estragar minha sexta-feira nem a de vocês. Dia 13, a seleção nos redimirá. Em outras palavas, relaxem e gozem.