Diariamente vejo, leio e ouço coisas que me incomodam. São atitudes, escritos e palavras (e mesmo sons), disparados a esmo como se seus autores estivessem se lixando pelos outros. Aliás, penso ser isso mesmo.
Ver alguém abrir o vidro do seu carrão de luxo e jogar uma carteira vazia de cigarros na rua me incomoda. Muita coisa que vai para o papel ou painéis também mexem com o meu fígado. Ouvir asneiras e de uma forma gratuita como nos brindam freqüentemente também não melhora meu humor.
Na verdade, e não quero aqui tentar fazer um estudo comportamental, pois não é minha praia, vejo que as pessoas estão se deseducando e, o que é pior, parecem acreditar em assertivas como “ah, todo mundo faz”... De forma consciente ou não, as atitudes de muitos parecem atropelar as mais comezinhas regras da educação e do bom-senso. Dão a entender que não trouxeram para fora de suas casas normas que regem uma sociedade dita civilizada.
Para focar num caso que vejo com freqüência e mexe comigo, cito o fato de na academia que freqüento, ver quase diariamente um grupelho de meninos bem nascidos, certamente freqüentadores de bons colégios, pois esse local fica situado num bairro de classe média alta, em constante algazarra que geralmente ultrapassa os limites do suportável. Naquilo que acham ser brincadeira, por exemplo, sobem em três ou quatro na balança do vestiário (que já quebrou mais de uma vez) ou então largam resíduos pelo chão embora existam recipientes para tal, sem falar da gritaria e de uma linguagem que certamente não usam (será?) dentro de casa.
São meninos de seus doze anos, idade mais do que suficiente para apresentarem atitudes compatíveis com o mundo onde estão entrando para ficar.
Entretanto, certas cenas me surpreendem; dias atrás, enquanto aguardava minha mulher, vi na área da lanchonete daquele local uma menina de seus sete ou oito anos, empurrando um carrinho com duas bonecas. Ela ocupou uma das mesas, deslocou uma cadeira para perto da sua e colocou suas bonecas ali, enquanto tomava seu suco e comia um lanche. Fiquei observando-a. Compenetrada, ela conversava com suas “filhas” enquanto saboreava os alimentos
Aí veio a surpresa; ao terminar, pegou suas bonecas, ajeitou-as no carrinho, pegou a cadeira “delas” e recolocou-a no lugar, amassou o papel do lanche e jogou-o no cesto de lixo e, finalmente, ainda passou a mão sobre o tampo da mesa tirando algumas migalhas que ali estavam.
Quando minha esposa chegou, comentei o caso apontando-lhe a menina, ao que ela me perguntou:
— “Você notou uma coisa nela”?
Sim, eu havia notado. Tratava-se de uma japonesinha, bonitinha e delicada.
Foi então que resolvi escrever o que aí está. Não é nenhum estudo sociológico nem algo que o valha, mas é a constatação de que culturas mais adiantadas sempre dão exemplos àquelas que ainda estão aprendendo.
Mas será que estamos mesmo aprendendo?