CAMINHOS DE PAPEL

quinta-feira, novembro 13, 2008

ESCOLA DEPREDADA

Confesso que fiquei estarrecido! Quando liguei a TV, um helicóptero mostrava imagens de adolescentes correndo sobre telhados e jogando telhas ao chão. Pensei estar diante de mais uma rebelião numa dessas assim chamadas unidades educacionais. Porém, na medida em que a imagem abria, constatei se tratar da Escola Estadual “Amadeu Amaral”, no bairro do Belenzinho, onde estudei na década de 50 e hoje com quase cem anos de existência, que estava sendo destruída por delinqüentes, numa briga entre alunos.
As câmeras mostravam carteiras e mesas jogadas no pátio interno, vidraças arrebentadas e nem o pára-raios escapou da fúria dos anormais.
Que indigência mental e moral! Lembrei-me dos tempos em que freqüentava aquele estabelecimento, quando os alunos entravam em salas de aula, em fila, sempre sob o toque da sineta do “seu” Júlio. Também me vieram à memória, os ensinamentos de dona Iracema, os quais não esqueci até hoje e que me serviram como alicerce daquilo que sou e do que construí.
Bons tempos aqueles, em que os mestres eram respeitados e valorizados. Na pedagogia simplificada daqueles tempos não havia espaço para malabarismos pedagógicos. As crianças aprendiam, e os que não sabiam repetiam o ano. Não era como hoje, quando políticas educacionais destrutivas, não obstante o objetivo louvável de permitir o acesso de todos à escola, colocam bons e maus alunos no mesmo patamar, fazendo-se um nivelamento por baixo e levando a um aprendizado cada vez mais deficiente.
Ser professor significava ter status, merecer respeito por parte de alunos, autoridades e sociedade. Os salários, se não eram nababescos, permitiam viver com decência, não precisando o docente recorrer a outros meios de subsistência.
É honroso para mim, ter em meu círculo de relacionamentos, professores (irmã, parentes, amigos). O exemplo maior está na figura de minha mulher, a qual vi durante todos esses anos, dedicar-se com todas suas forças ao magistério. Como eu, hoje ela não vê soluções a curto ou médio prazo mostrando que a decadência do ensino público seja um mal passageiro. Por enquanto, infelizmente, temos de ouvir afirmações tais como a de que “estudar não é necessário”. Parte das conseqüências dessa filosofia está estampada agora nos jornais.