CAMINHOS DE PAPEL

quarta-feira, novembro 30, 2005

CONTATO EM PORTUGAL

Segue, abaixo, texto de e-mail de um escritor português, com quem me correspondo, e que pede-me para transcrevê-lo aos amigos:


Prezados
Antes de mais, cumprimentos a partir de Portugal.
Aproveito a oportunidade para informá-la que tomei contacto com a
sua actividade cultural, em prol da língua portuguesa, algo pelo
qual desde já a congratulo.

Aqui me coloco à sua disposição para um intercâmbio literário e
cultural entre autor e instituição, servindo-nos das facilidades
fornecidas pelas novas tecnologias e procurando promover, junto de
todos os interessados, a língua portuguesa.

Quedo-me à sua disposição.

Segue meu breve currículo literário:


- “Ordem do Templo: Em Nome da Fé Cristã” (Ulmeiro, Portugal, 2000)
- “História e Mistérios dos Templários” 2ª Edição Esgotada (Ediouro,
Brasil, 2001)
- “Escritos Errantes (histórias leves como o vento mas tocantes como
a tempestade)” Esgotado (Senso, Portugal, 2002)
- “Ku Klux Klan: Pesadelo Branco” (Magno, Portugal, 2003)
- “Tripla Imparável I: Juventude em Acção” (Magno, Portugal, 2005)
- “Os Templários e o Brasil” (Flâmula, Brasil, 2005)
- “Templários em Portugal (a verdadeira história)” (Ícone, Brasil,
2005)
- “Templários (Ordem Militar e Religiosa)” (Catedral das Letras,
Brasil, 2005)
- “Confraria Mística Brasileira: a História” (Câmara Brasileira de
Jovens Escritores, Brasil, 2005) No prelo

Respeitosamente,
Pedro Silva

(ps77@aeiou.pt)

segunda-feira, novembro 28, 2005

QUATRO SENTIDOS

Milena era diferente; nascera sem o olfato e seus pais demoraram para perceber essa anomalia, pois criança só começa a exprimir seus conceitos na medida em que vai ganhando o mundo.
O cheiro da fralda suja não a incomodava. Se chorava, era porque assaduras maltratavam as dobrinhas de sua carne. Tampouco o cheiro da mãe fazia falta, substituído que foi pelo modo como era segurada no colo. Levada aos mamilos, logo aprendeu como procurar as tetas maternas.
Lá pelos quatro anos, os primeiros vestígios de vaidade. Roupinha nova e sapatinhos brilhantes; começava a gostar disso. Não entendeu quando a mãe passou-lhe um perfume atrás das orelhas:
— Que é isso, mammy?
Milena não entendeu o que queria dizer “ficar cheirosa”.
- Que é cheirosa, mammy?
A mãe desacorçoou. Como explicar o cheiro? Pegou o cachorro, alí perto:
— O que você sente assim pertinho do Rex?
— Ele é bonito, é quentinho.
— Mas, o cheiro... não sente o cheiro?
Ela não só não sentia, como não sabia o que era aquilo. A mãe se desesperou. Num gesto beirando a insensatez pegou a garrafa do limpador à base de amoníaco levando-o perto das narinas da filha: nem uma careta.
À noite, chorou com o marido:
— Mileninha não cheira. Ela não tem olfato.
Consultaram médicos e mais médicos, enfim, todos os especialistas que pudessem explicar aquilo. Constatada a anosmia, sentenciaram: poderia ser temporária. Tumores ela não apresentava e nada explicava o caso. Nem o lado psicológico foi descartado. Mas não havia o quê nem o porquê. Milena teria de enfrentar o mundo à sua maneira. Um prosaico peido era motivo de repreensões. Por quê? perguntava-se, se às vezes era em silêncio?Foi crescendo sem sentir o cheiro da vida.
— Mãe, a carne assada está uma delícia. Como é o cheiro dela?
Não havia resposta para esse e nenhum outro cheiro. Milena teve de começar a adivinhar os cheiros.
Na feira-livre, pegava uma laranja, olhava-a, apalpava-a e seu conceito da fruta estava pronto, inclusive o de cheiro: amarelado.
Gostava de flores. Nomeou-lhes os aromas. Tinha uma idéia toda sua dos cheiros e explicava-os como os entendia, numa mistura de sentidos:
— Ah, que vermelho cheiroso.
Mas confundia-se com o diferente vermelho da maçã. Começou a ficar neurótica.
Cresceu. As paixões vieram e foram. Como saber a diferença que um perfume poderia fazer? Menos ainda compreender o que significava mau hálito. A mãe tentava explicar, mas para Milena era difícil entender o inexplicável.
Conheceu homens; amou, desamou, tudo com apenas quatro sentidos. E na cama, há que se ter os cinco.
A neura derrubou-a. Sentiu-se desgraçada. Julgara poder viver sem o cheiro; todo mundo é incompleto em alguma coisa. Por que não ela? Mas a decisão de encarar um mundo sem cheiros a enfraquecia. Entendia quando alguém chorava que a vida já não tinha mais sabor. No entanto, como fazer uma metáfora com algo que não conhecia?
Num dia qualquer, em seu desalento, sentada na cozinha e depois de pôr a água para o café para ferver, tentou relaxar pensando na infância sem cheiros, quando era feliz. O calor do Rex; o cocô bonitinho do Rex; o nariz enfiado de brincadeirinha num sapato, rindo enquanto as outras crianças faziam caretas. E o pai chegando em casa suado e carinhoso.
Pegou da caneca de água e despejou-a no coador. A fumaça e o escuro sem cheiro. Um vento apagou o bico de gás, que ficou aberto.
Tomou o café, aprovando-o na boca e só ali. Permaneceu longo tempo degustando aquele sabor, queria aproveitar do que conhecia. Depois, pegou o maço de cigarros sobre a mesa, bateu-o e um deles saltou para fora. Levou-o à boca, pensativa, para em seguida dar um único clique no isqueiro.
(Texto premiado no concurso de contos da Academia de Letras de São João da Boa Vista- SP)

domingo, novembro 27, 2005

DANIELA MERCURY

ESTOU COM A DANIELA E NÃO ABRO!


MOTIVO? ESTA NOTÍCIA: "PAPA RATZINGUER VETA APRESENTAÇÃO DE DANIELA MERCURY EM FESTA DE FIM DE ANO, NO VATICANO, PORQUE A CANTORA FEZ PROPAGANDA A FAVOR DO USO DA CAMISINHA NO CARNAVAL PASSADO.

sexta-feira, novembro 25, 2005

O CORREDOR

Era uma casa enorme. Minha mãe chamava-a de arranha-céu, embora não passasse de um grande sobrado com porão acima do nível do jardim, dois andares e, principalmente, com torreões que formavam o sótão, fazendo o prédio destacar-se entre os demais naquela tranqüila rua do Belenzinho, em São Paulo.
Para mim, ainda criança, era de uma imponência que chegava a assustar. Janelas sempre fechadas, jardins tomados pelo mato e com uma primavera encimando o arco sobre o portão, aquele era um lugar mágico onde minhas fantasias entravam, percorriam cômodos cinzentos e soturnos, cruzando com assombrações.
Um dia, inesperadamente invadi esse mundo. Na visita a uma tia que morava a um quarteirão dali, ouvi-a convidar minha mãe para visitar a moradora desse castelo, pois amigas que eram devia essa obrigação à dona, então adoentada.
Foi numa mistura de apreensão e curiosidade que as acompanhei, levado pelas mãos seguras de minha mãe. Na resposta à campainha, apareceu na porta da varanda a moradora, visivelmente abatida mas nem por isso descurada no vestir, como se sempre esperasse por alguém.
Não me lembro de seu nome, mas era simpática. Levou-nos para a grande sala onde por mais de uma hora ficaram elas conversando. Sentado ao lado de minha mãe não ousei levantar-me e ensaiar alguns passos por alí, principalmente por causa do corredor que saia da sala e levava para algum lugar nos fundos do casarão. Uma pesada cortina vermelha entreaberta deixava perceber a escuridão que o envolvia.
Nem o chá com bolinhos fez com que eu despregasse os olhos daquele espaço assombrado onde, achava, almas penadas se escondiam. De quando em quando, parecia perceber algum ruído. Não o creditava à minha imaginação ou simplesmente à madeira estalando. Eram almas. Eram almas que pareciam espiar os intrusos.
O tempo escorria lentamente. Segurei a mão de minha mãe com mais força e aguardei por fantasmas e aparições que nunca vieram.


domingo, novembro 20, 2005

ENTÃO FICAMOS ASSIM

Pois é! De passo em passo (e largos, largos), este mundo vai virando uma aldeia global. Comunicação instantânea de um lado ao outro do mundo virou carne de vaca (não sei como apareceu esta expressão; é antiga, mas a única coisa que sei é que nem todo mundo pode comer carne de vaca todo dia).
Voltando às comunicações, eu, calejado de estrada, estou entrando agora no orkut. Para quem não sabe (se é que há quem não saiba), trata-se de um caminho da internet onde é possível encontrar pessoas, comunidades, em praticamente todos os cantos do mundo.
Já que entrei nesse admirável mundo novo, criei e tb fui procurar por comunidades de meu interesse: ex-colegas de trabalho, pessoas relacionadas com esse esquisito hábito de escrever (e se possível, bem), locais onde estive ou ainda freqüento, etc.
Para minha surpresa, estou recebendo respostas inesperadas, principalmente nas pesquisas que faço com meu sobrenome: Bruni Fernandes, originários, respectivamente, de meus lados materno e paterno.
Surpreendentemente, apareceu até gente com os dois sobrenomes, o que não é totalmente impossível, mas de reduzidas probabilidades de se encontrar.
E aí, ficamos assim: quem quiser entrar nesse rolo, é só me avisar (se não for orkutista) que eu mando o convite ou, se for, abra o ork pelo meu nome completo.
Curiosidade: a comunidade Orkut é de origem estrangeira mas - pasmem - lí hoje que, dos atuais onze milhões de membros, nove estão no Brasil.
Um bom domingo a todos!
Carlos

sexta-feira, novembro 11, 2005

TEMPO DE EMBEBEDAR POLÍTICOS

Se há alguma semelhança entre o belo filme iraniano Tempo de embebedar cavalos e certos setores da atual vida política nacional, ela pode ser analisada da seguinte maneira: no filme, aliás uma bela lição de como se faz cinema, desenrolava-se uma história sobre o povo curdo que, perseguido por todos os lados, tentava sobreviver numa região inóspita na fronteira Irã-Iraque, isto na época em que Saddan Hussein mandava e desmandava nesse último país. Na luta pela vida, aquela gente era levada a praticar contrabando entre as duas nações, atividade evidentemente ilegal, mas a única que lhes restava para tentar a sobrevivência.
Nesse expediente, era costume usar animais (na verdade, no filme são mulas), para transportar pesadas cargas pela região montanhosa entre aqueles dois países. Como isso ocorria também durante o rigoroso inverno, para que os muares resistissem ao tempo inclemente davam-lhes água misturada com álcool. Assim estimulados, os animais se tornavam dóceis e conseguiam (nem sempre) carregar seus pesados fardos através de trilhas geladas da fronteira.
No Brasil, também temos nossas mulas. Como as do filme, elas também são embebedadas e facilmente conduzidas por cabrestos manuseados por uma espécie de contrabandista encontrado quando se trata de defender interesses espúrios.
Nossas mulas não bebem água com álcool. A elas são dadas dinheiro ou cargos remunerados com o dinheiro público para que possam atender interesses mesquinhos. Uma vez satisfeitas suas necessidades básicas, tornam-se facilmente manipuláveis e pegam o rumo que seus condutores desejam.
Generalizar é perigoso e até injusto. No mundo da política ou ao seu redor ainda existem aqueles que honram suas obrigações e respeitam a vontade do cidadão comum, nem por isso menor. Infelizmente, uma parte considerável daqueles que freqüentam a esfera do poder vende seu lombo pronto para a carga por qualquer trocado ainda que para isso tenham de reverter uma posição assumida anteriormente.
É até aí que vai a semelhança das mulas da fronteira com os homens públicos de consciência negociável. Daí para a frente não dá mesmo para se fazer comparações, já que as mulas do filme, à sua maneira, têm uma certa dignidade.
(Este texto foi postado para lembrar a atitude de muitos Deputados Federais que, a exemplo das mulas do filme, venderam seu lombo para obter do Governo Lula, benefícios que este distribuiu para tentar abreviar o fim da CPI dos Correios. A relação dos oportunistas está no Blog do Josias de Souza, da Folha de SãoPaulo, de 11/11).

quinta-feira, novembro 03, 2005

SERÁ QUE UM DIA APRENDEREMOS?

Volto de uma viagem aos estados do Sul, onde fiz longas caminhadas pela região dos parques de Aparados da Serra e Serra Geral. Não serei redundante dizendo das belezas de seus largos e profundos cânions, o que qualquer revista de turismo já cansou de mostrar.
O que elas não mostram e boa parte da imprensa também não faz, é levar ao conhecimento do brasileiro dois males que devastaram e devastam a região.
O primeiro, já controlado ainda que talvez um pouco tarde, é o da derrubada das araucárias, e que à época da construção de Brasília manteve cerca de duzentas (duzentas!!) serrarias, que por quase vinte anos forneceram madeira para a construção da cidade.
O segundo, bem atual e bem ativo, é o da plantação de fumo. Ao contrário do Nordeste, onde as folhas dessa erva são colocadas ao sol, para secar, no Sul, devido às condições climáticas, são secadas em fornos de barro alimentados por árvores da região. Nas muitas pequenas propriedades por onde passei, pude ver montes de troncos e galhos arrancados da mata e que serviriam para alimentar as fornalhas.
O Ministério da Saúde adverte: fumar faz mal à saúde.
Não seria tempo de criarmos um Ministério da Decência e do Bom-senso?