CAMINHOS DE PAPEL

sábado, março 18, 2006

EU SEI O QUE VOCÊ FEZ NO VERÃO PASSADO


Provavelmente saberão, mesmo. Boquirroto contumaz, não sei ficar calado e logo, logo, minhas andanças e querenças cairão na boca do povo e serei devidamente apedrejado pela turba ignara, que não compreende os sentimentos de um homem em sua incessante busca pelo saber.
Mas vamos começar pelo começo: eu, como vocês, gosto de ler. Quando meu orçamento refresca um tiquinho, compro um livro o qual venho cercando há algum tempo. No mais das vezes, entretanto, é na biblioteca do bairro que me socorro indo buscar algum exemplar já meio massacrado por mãos indigentes e cupins vorazes. Mas sempre quebra o galho.
E deu que, na semana finda e com essa idéia de que leitura engrandece o homem, meti na cabeça de visitar a Bienal do Livro, no pavilhão de exposições do Anhembi. Como minha cara-metade é professora, descolou para si uma credencial para entrar na faixa. Eu, provecto cidadão já entrado na faixa dos sessenta, também ganhei a prerrogativa de ganhar um ingressinho grátis (uma compensação pelos 3,16 % da aposentadoria que os barões assinalados nos concederam) e lá fomos nós antegozando essas mordomias.
A idéia era de que iríamos para um evento civilizado. Afinal, se não podemos comprar livros quando bem entendemos, nem por isso o mercado editorial estará derrapando. Muito pelo contrário, pelo que se viu lá.
De qualquer forma, era um sinal de civilização, com o requinte de os organizadores colocarem ônibus grátis ligando o Terminal Tietê do metrô até o pavilhão. Não pensei duas vezes para usar tal dádiva, o que me livraria de ter de correr vários quilômetros da insuportável Marginal Tietê num dia de semana e pagar os 15 paus de um estacionamento ao sol, o que muito me agradou.
Mas...
O ônibus ficou parado no ponto de embarque o tempo suficiente (e bota suficiente aí) para lotar, e sob um sol africano. Menos um ponto.
Ao chegar ao local, parou a uns 500 metros da entrada, desembarcando os felizes prováveis futuros leitores debaixo do mesmo sol, o que me levou a concluir: a) a espera na volta, aconteceria debaixo do mesmo sol. b) poderia também ocorrer debaixo de chuva, já que não havia um mísero abrigo entre a saída e esse local. Menos quatro pontos.
Se eu fosse um cara pessimista, voltaria daí mesmo, mas como sou brasileiro e não desisto nunca, fui em frente.
Ao entrar no recinto da exposição é que me dei conta da extensão da tragédia que nos esperava. Menos uns dois mil e quinhentos pontos.
Por se tratar de um dia de semana, e de manhã (passava pouco das onze), na minha santa ingenuidade achava que o lugar estaria tranqüilo. Ledo engano. Provavelmente metade das escolas de São Paulo estava presente, desde risonhos pimpolhos que ainda não atingiam os cinco anos (todos devidamente etiquetados, e muitos agrupados e sentados no chão comendo seu lanchinho) até molecotes e molecotas, donos de uma energia e educação que fariam Herodes suspirar de prazer.
Não se podia andar sem topar com um vagalhão de pestinhas mal educados carregando bonezinhos, sacolas, folhetos e congêneres. Na verdade, dava pena de ver um bando de pentelhinhos ainda cheirando a leite, sendo conduzidos por professoras ainda mais aparvalhadas, tentando não se misturar à turba. Patético! Doloroso! Um trauma que provavelmente os levará a odiar livros pelo resto de suas vidas.
Entrar num stand era um suplício. Pesquisar livros, fosse o que fosse, era um exercício de paciência. Dar uma mijadinha, uma odisséia. Comer alguma coisa, a preços exorbitantes e falta de qualidade, idem.
Bom, o cenário era a previa do Apocalipse. A cada instante, o serviço de alto-falantes chamava por alguma professora, pedindo-lhe para se reunir a seus pupilos em determinado lugar. Num certo momento, chamaram a Professora Cidinha para que comparecesse ao stand das crianças perdidas. Imaginei que de 20 a 25 professoras Cidinha tenham comparecido ao local. Afinal, quem já não teve uma professora Cidinha pelo menos uma vez na vida?
O portão (único) para saída dos grupos dava a impressão de que o Êxodo estava sendo reprisado. Nem Átila, o Huno, conseguiria ultrapassar aquele bolo humano.
Para encurtar: olhei para minha mulher e joguei a toalha (é apenas uma figura de linguagem, mas bem que precisava de uma, pois o calor era insuportável) Estava desistindo, ainda que nem a metade do lugar tivéssemos visto.
Pelo menos não choveu lá naquele maldito lugarzinho do embarque de volta. Valeu l ponto (para gastar na próxima Bienal).
Isso explica o dito lá em cima. Num futuro próximo, quando eu tiver uma recaída e vontade de visitar outra Bienal do Livro, serei lembrado do que fiz neste verão.
Ah, só para não esquecer: à saída do pavilhão, deparamos com uma banca de doces onde, numa faixa, estava escrito “Travesseiro de periquita”. Curiosos, fomos averiguar e constatamos que era um doce português colocado à venda.
Juro por Deus: que esse nome está me dando uma vontade louca de escrever outra crônica, isso está.

segunda-feira, março 13, 2006

ENROLATION

Peço vênia (afff, que coisa linda) a meus colegas para não postar minha crônica hoje. Não que eu seja preguiçoso, o que não estaria muito longe da verdade. O fato é que hoje foi um dia de cão. Há muitos dias vem acontecendo isso e nem aqui no blog andei postando coisa que valesse a pena (o que não chega a ser novidade). Não tive tempo para assentar a bunda na minha Giroflex e tentar escrever qualquer coisa do cotidiano. E olhem que o cotidiano de hoje (ótima também), foi do cacete. Problemas mil e soluções nem tanto, me infernizaram o dia.
Ente uma garfada e outra do almoço também corrido, dei uma rapidinha (calminha aí) no jornal de ontem, misturado com a edição televisiva do noticiário global e ví deputados sorridentes (todo canalha sorri) e abençoados pelo plenário que os homizia. Vi também a cara apalermada e assustada dos jovens soldados tentando conter a revolta da população dos morros da Rosinha (enquanto um coronel aparecia num rompante de ousadia e devidamente escudado por colete à prova de balas, disparando seu fuzil FAL para o alto). Seguiram-se fatos e fotos dos Okamoto e Valério da vida mas, vamos lá, meu estômago não é de ferro.
Nem vi pela TV meu time perder. Dispenso comentários.
Não sei e nem tive tempo de me preocupar com meu sapo de estimação desaparecido há cinco dias.
Procurei, acreditem, abrir uma brecha em busca de meu tempo perdido para escrever qualquer porra que fosse. Além da problemática do tempo, não encontrei solucionática para a questão. Nada, nada, nada me inspirava. Crise de criatividade, concluí. Afinal, se os gênios têm dessas frescuras, por que não eu, reles mortal que jamais tomará chá na Academia? Tem nada, não. Prefiro mesmo é uma loura gelada.
São vinte e uma horas de uma segunda-feira. Perguntarão os incréus: aposentado pensa em tempo?
Catso, SÓ pensa em tempo, ou acharão vocês que nesta idade, as paginas da folhinha não caem mais depressa? É uma fase outonal e o tempo é relativamente curto para o inverno. Ou faço agora o que tenho de fazer ou danei-me, mesmo poque não acredito em vida depois da morte. Aliás, às vezes, nem acredito que exista antes da morte.
Mas isso não dará azo para uma crônica, pelo menos com tempo para reflexões que essa digna atividade exige.
Com essa lenga-lenga toda, o que se conclui? Que estou enrolando, é lógico. Não é minha intenção de tirar uma com a cara de vocês, mas sim ajoelhar-me diante do confessionário e purgar meus pecados. Se vou ser perdoado, sabe-se lá. Pior ainda se for um padre Almodovariano.
Recebam todos vocês um amplexo caloroso, um beijo de gratidão e um bai-bai bem cansado.
No mais, a gente se vê outro dia.