CAMINHOS DE PAPEL

domingo, julho 31, 2005

DOR DE CABEÇA

Domingo à noite. Sem inspiração e dor de cabeça. Também, pudera! Quatro a dois para o Santos F.C. sobre o meu Corinthians. Escrever o quê? Mas eu volto, eu volto.

terça-feira, julho 26, 2005

PAPA FINA

Dias 12, 13 e 14 de agosto, Sesc Vila Mariana, São Paulo: "Balé Stagium dança Chico Buarque". Imperdível. Marika Gidali sabe o que faz. Quem perder vai ter de ajoelhar no milho.

quarta-feira, julho 20, 2005

HERMÉTICO

Claudinha foi categórica:
— Você... você é um hermético!
Foram suas últimas palavras antes de me deixar.
Era uma mulher decidida, de posições firmes e eu sabia que ao me adjetivar dessa maneira estava colocando-me numa categoria da qual dificilmente seria removido num improvável ato de arrependimento.
Parado frente ao espelho, com a cara coberta de espuma de barbear como procurando me esconder de mim mesmo queria, nesse momento, ser de fato fechado às suas acusações em não poucas vezes mescladas com impropérios.
Que diabo! Eu tinha direito à introspecção e não devia nada a ninguém, nem mesmo a ela, amante que só fazia me cobrar, e cobrar e cobrar. Queria retalhar meu íntimo em tiras e desfilar com meus sentimentos qual porta-bandeira pretendendo-se rainha da passarela.
Conhecíamo-nos há seis meses, se tanto. Depois de uma noite de bebedeira num aniversário, nem lembro direito de quem, resolvemos nos assumir e o clima foi rolando.
De início, eu não sabia direito quais eram suas expectativas sobre nós mas logo a percebi querendo puxar a agulha de minha bússola para o seu lado, tentativa que entendi como procurando um relacionamento duradouro. Ora, ver minha vida repartida, minhas meias e as dela na mesma gaveta não estava em meus planos. Meu único compromisso, a despeito de nosso convívio, era com aquele sujeito ali à minha frente, cara cheia de sabão e sem explicações a dar ou receber. Na verdade, eu me sentiria bem se estivesse em qualquer dos lados do espelho. Só que aquele olhar não era o meu, aquele que eu pensava conhecer.
Passei a mão pelo rosto retirando uma boa porção de espuma e esfreguei-a nos olhos daquele curioso me encarando. Parecia acusador. Parecia meu grilo falante, ainda que de boca fechada.
A torneira continuava jorrando e meus pensamentos também escorriam para dentro de mim. Certa vez, depois de um pileque, Claudinha me barbeara na cama. Em seguida, encheu-me de espuma de alto a baixo; fiquei parecendo um boneco de neve. Fizemos amor em meio a bolhas e derrapadas deliciosas. Eu estava agora jogando isso fora e pela primeira vez invadiu-me a dúvida: era isto que eu queria?
Passei a toalha pelo rosto e em seguida pelo do meu parceiro à minha frente. Pareceu sorrir como se soubesse o que eu iria decidir.
A agenda, a agenda... Não sou bom em guardar números e o telefone de Claudinha estava lá. C, C, C... Ah, aqui está.
Tudo bem, Claudinha. Por enquanto, você venceu. Vamos ver o que dá para fazer com o meu hermetismo. Você me ajuda?

domingo, julho 10, 2005

OUTRO TIRO NA CULTURA

Lutamos para quê? Ainda estão em minha memória os fatos que levaram à criação da Oficina Cultural Raul Seixas, no começo dos anos 90. Capitaneados pelo saudoso Cleber Onias Guimarães, então presidente do Conselho Comunitário do Tatuapé, a comunidade se mobilizou para conseguir a criação da Oficina. Não foi fácil, pois o governo estadual que começava naquela época, criava diversas oficinas, porém colocava de lado o Tatuapé e vasta região circunvizinha.
Muitas reuniões aconteceram, líderes comunitários abraçaram a luta e quase dez mil assinaturas fizeram o governo ver que estava deixando de cobrir uma lacuna na região e a oficina foi criada.
Posteriormente, quando a troca de comando no Palácio dos Bandeirantes, quatro anos depois, levou à medidas assim ditas como corte de despesas, a cultura sofreu novos golpes. Entre eles, o do anunciado fechamento da Oficina Raul Seixas. Mais uma vez a comunidade e a população em geral sairam às ruas, acontecendo até mesmo uma passeata na av. Paulista, em protesto contra tais atos cujo alcance não era apenas regional, mas em todo o estado. De novo, acompanhamos Cleber Onias à porta da sala do Secretário da Cultura e, finalmente, foi conseguido que se fosse mantida a oficina do bairro.
Os tempos mudaram, mas os políticos não. Chega-nos agora a notícia de que a Oficina Cultural Raul Seixas pode ser fechada e mais uma vez, sob a alegação de falta de verbas. São tantos os acontecimentos que depõem contra os poderosos de plantão, que já devíamos estar acostumados.
Mas não é bem assim. Assistimos recentemente à extinção da Orquestra Sinfonia Cultura. Prima pobre da OSESP, não teve a sorte desta para alcançar o destino que merecia, ainda que mais modesto pudesse ser. De pouco adiantaram os movimentos por sua renovação; o pouco oxigênio que ganhou com o apoio do SESC, deu-lhe uma sobrevida que se extinguiu neste meio de ano. A grita geral não demoveu os demolidores da cultura que agora nos presenteiam com mais essa má notícia.
Lutamos para quê, então? Os impostos que pagamos não retornam à população como seria de seu direito. Há, talvez, prioridades na aplicação de recursos. O problema, e agora generalizando para o resto do país, é que o dinheiro existe, mas está escorrendo para caminhos pará lá de estranhos e até sendo escondido (desculpem a grosseria) em cuecas.
Vamos, então, lutar novamente. Não podemos assistir de braços cruzados o desmonte da cultura, como já vem ocorrendo com a saúde, a educação, a segurança pública...
Espero que esta carta não seja a única a clamar contra mais esse absurdo, pois aos poucos estamos sendo apequenados diante da mediocridade que se estabeleceu neste país.
(Infrormação: a Oficina Cultural Raul Seixas está localizada no bairro do Tatuapé, cidade de São Paulo, bairro aquele vizinho ao do Belenzinho, onde a unidade do SESC ali existente sediou por mais de cinco anos a Orquestra Sinfonia Cultura).

sábado, julho 09, 2005

FIM DE NOITE


Ele jogou o robe sobre uma cadeira, deixou os chinelos em posição de recebê-lo pela manhã e enfiou-se sob as cobertas.
Ela, recostada no travesseiro lia uma revista. A luz tímida do abajur focava caras de famosos e ilhas inatingíveis. Com um suspiro jogou as páginas abertas sobre o tapete ao lado, olhou para o marido que começava a ressonar e apagou a luz.

segunda-feira, julho 04, 2005

A VERDADEIRA FIEL


(esta é uma crônica datada relatando um fato ocorrido há não muito tempo. Com a inserção de uma outra no blog Os cronistas (www.cronistas.blogspot.com), recentemente, e que tem certa relação com esta, resolvi publicá-la, ligando-as entre si).


Gosto de futebol e sou corinthiano, o que para os piadistas de plantão é uma contradição. Sou também do tempo em que o time trazia expoentes como Cláudio, Gilmar, Luisinho e Baltazar. Anos e anos depois, surgiram nomes como Sócrates, Casagrande, Wladimir, que também honraram a camisa mosqueteira com vitórias que arrastaram multidões aos estádios.
Não sei dizer se é desses tempos que sua torcida começou a ser chamada de Fiel. Ela tem, realmente, através dos anos mostrado um amor irrestrito às cores alvinegras e, não raro, podemos ver a bandeira mosqueteira flanando em la Bombonera, no Defensores del Chaco, ou em Belém do Pará. O amor pelo Coringão não conhece fronteiras.
Mas conhece desgostos. A campanha atual tem sido abaixo da crítica chegando ao ponto da humilhação de ver o Timão ameaçado pelo rebaixamento à divisão inferior do futebol paulista ou nacional.
Entretanto, não é sobre o time ou sua torcida que quero falar. Num domingão chuvoso, no qual a sorte do glorioso Corinthians, para evitar o rebaixamento às divisões inferiores do campeonato paulista, estava nos pés de seus jogadores, ironicamente estava também nos pés do rival São Paulo F.C.
O Timão estava em situação crítica. Ficara na dependência humilhante de uma vitória do tricolor sobre o Juventus, pois se este vencesse, o rebaixado seria o Mosqueteiro. E aí assisti a um outro drama, pois o Moleque Travesso acabou derrotado.
Nas arquibancadas molhadas do estádio onde haviam acabado de jogar tricolores e grenás, a televisão mostrou uma garota de seus catorze ou quinze anos. Em seu rosto, a expressão da mais pura desolação. Sentada nos degraus de cimento e vestindo uma camiseta juventina encolhia-se comprimindo os joelhos contra o peito. Parecia esperar por um terceiro tempo que jamais viria.
No rosto emoldurado por cabelos escorridos pela água que caía sem parar, desceu uma lágrima que ela tentou enxugar com o dedo indicador dobrado.
Nesse jogo, mesmo com o seu Juventus rebaixado para a segunda divisão, entre os pouquíssimos torcedores do time da Mooca ela simbolizava a verdadeira fidelidade.