CAMINHOS DE PAPEL

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Só para chatear vocês

Vocês sabiam que os assassinos do menino Yves Ota (lembram-se desse caso?) receberão indulto de Natal e poderão passar a data magna da cristandade (sem ironias) nas ruas?

quinta-feira, dezembro 07, 2006

TURISTAS NADA ACIDENTAIS


Apareceu uma nova praga na internet. Seja através de e-mails, seja pelo orkut, estão denunciando um filme americano (a ser lançado em fevereiro por aqui), chamado “Turistas”. Resumindo, trata-se de um terror “trash”, cujo enredo (?) mostra um grupo de turistas estrangeiros passeando por aqui e acabando como vítimas de traficantes de órgãos, numa seqüência de violências as mais escabrosas possíveis.
É claro que isso nos deixa indignados, pelo menos a nós que ainda sonhamos em ver esse imenso Brasil se tornar um país sério. Sim, porque alguém achar que tal produção depõe contra nós é ser, no mínimo, ingênuo.
O que será que depõe contra, mais que esse filmeco?
Vejamos: Quando saímos do período da ditadura que nos enfiaram goela abaixo, em 1964, estávamos tão entorpecidos que não percebíamos que seus efeitos iriam perdurar por décadas. Para começar, um bom número de nossos políticos atuais, que naqueles tempos cinzentos lambiam as botas dos militares, hoje estão aí posando de democratas e se locupletando com isso. Para esses, não há limites morais (tudo em nome do povo, de onde seu poder emana) ou físicos (haja vista a dinheirama em paraísos fiscais). Outros, que lutavam contra o regime autoritário descobriram que o “outro lado rende mais”.
Nosso Congresso, aliás, é um primor de descaramento. Sanguessugas não são punidos, Mensaleiros são absolvidos, apesar da posição em contrário das Comissões de Ética (acreditem, elas existem, sim).
E o que dizer do Judiciário, empenhando em árdua campanha para manter seus altos salários (ou mesmo aumentá-los). Pior ainda é ouvir de um presidente do Banco Central a recomendação de que, para os próximos anos, reduza-se o valor do salário-mínimo (em qualquer país onde o chefe da nação tenha um pingo de vergonha na cara, esse burocrata seria, no mínimo, chamado às falas).
Mas a sucessão de indigências não acaba aí: estamos assistindo, através a mídia, o caos em que se transformou (seria melhor dizer, finalmente se revelou) o tráfego aéreo do Brasil. Sendo considerado a menina dos olhos dos serviços públicos deste país, não deixa de ser surpreendente que o mesmo seja rebaixado ao mesmo nível em que se encontram os serviços de Saúde, Transportes Terrestres e Aquáticos, a Educação e – cuidado, senhores turistas, estrangeiros ou nativos – a Segurança.
Tudo isso é possível num país onde os responsáveis nada vêem, nada sabem. E não falo apenas desse governo que aí está, cego pela sede de poder, onde ideologias passam por cima da razão. Outros que o precederam, situando-nos apenas na época posterior à “revolução redentora”, se não fizeram pior, estiveram bem perto disso.
Causa-me estranheza (para usar um termo suave) ver agora brasileiros indignados sentados à frente de um computador deflagrando uma campanha contra espertalhões que querem ganhar seu sujo dinheirinho denunciando o perigo que se pode correr viajando pelo nosso país.
Mereceriam mais esse dinheiro, se escrevessem a história do Brasil de hoje.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

HOMEM, MEIA-IDADE, PROCURA...



Ontem, fui ao SESC Santana para assistir a um espetáculo de teatro. Como cheguei um pouco cedo, subi até a sala de leitura onde peguei uma revista qualquer e fiquei folheando-a.
Acomodei-me num sofá, ao lado de um homem aparentando estar perto dos cinqüenta, que folheava um jornal. Não sei se era associado ou não, pois essa área não restringe a entrada de pessoas não matriculadas.
Ao lado dele, em pé, uma mulher, que depois me pareceu ser sua esposa, folheava outra parte do jornal apoiando-o numa mureta.
Cena corriqueira, pensei. Mas logo vi que ao meu lado se desenrolava um pequeno drama — eu diria, tragédia, desde que não me entendam politicamente (ou se quiserem, podem entender, sim).
A certa altura, a mulher perguntou ao homem se ele sabia onde ficava a av. Lineu de Paula Machado. Longe, disse ele, ao que ela retrucou ser uma pena, pois havia no jornal algo que parecia ser promissor.
Não compensa (afirmou o sujeito) atravessar a cidade toda para ganhar pouco.
Essa afirmação acendeu minha curiosidade e, olhando de canto de olho, percebi que ambos consultavam os cadernos de empregos do jornal domingueiro. A partir daí, desinteressei-me da revista e, sem largá-la, passei a prestar mais atenção aos dois.
Em dado momento ele mostrou um anúncio à mulher, que resmungou: “Não, porteiro, não. Você faz mais do que isso”.
O homem voltou ao jornal, tal como ela, e ficaram pesquisando outras ofertas de trabalho Os comentários iam e vinham. Oportunidades existiam, mas mesmo para quem procurava sair de uma presumível situação de sufoco, por um ou outro motivo elas não se encaixavam no perfil daquele homem de cabelos embranquecendo e definitivamente a caminho de mais amarguras na sua vida de trabalhador.
É claro, estou emitindo um juízo de valores todo meu, mas não consigo escapar da idéia que ali, ao meu lado, um drama pessoal se desenrolava.
Dada a minha hora de ir para a platéia, levantei-me e fui, calado. Que diabos, pensei, fazem com que um homem passe uma tarde de domingo atrás de um caderno de jornal pensando na segunda-feira que se aproxima, quando irá à luta na busca pela sobrevivência? Pior, nesse caso em particular e por dedução toda minha, em desvantagem.
Mas a vida continua e, para mim a tarde-noite terminou bem; assisti à A louca de Chaillot, com uma interpretação magistral de uma atriz novinha e despontando para a glória: Cleyde Yaconis. E ela tem só oitenta e três aninhos. Guardem bem esse nome.