CAMINHOS DE PAPEL

segunda-feira, dezembro 01, 2008

CANÇÃO E POESIA

Numa noite dessas, depois de eu e minha mulher sairmos do mini-auditório do SESC da Avenida Paulista, caminhávamos até a estação do metrô conversando sobre a brilhante apresentação que havíamos acabado de assistir. Tínhamos visto uma aula-show com o, entre outras coisas, músico, professor de Literatura, crítico literário e musical, Arthur Nestrovski e a não menos versátil cantora Suzana Salles, na qual o tema abordado fora “O lugar da canção”.
Comentávamos, então, que esse gênero vem sendo, de certa forma, vítima de um desinteresse do público em geral, talvez porque em tempos de modalidades, digamos assim, mais esfuziantes, ou mais apropriadamente, de fácil deglutição, a grande mídia não tem lhe dado a devida importância, motivada por interesses nem tão difíceis assim de serem compreendidos.
Dentro dessa conversa, fiz uma comparação com a música clássica que, em meu entender, avança num caminho que ao longo do tempo chegará à sua extinção.
Talvez esteja eu com um viés pessimista em meu olhar. Porém, há quanto tempo não surge uma sinfonia do porte de uma Tragic, de Schubert, ou da Pathétique, de Tchaicovsky? Veremos um novo Beethoven? Alguma nação tem, hoje, um Wagner para enaltecê-la?
Num paralelo, a música popular sobrevive de maneira análoga. No meio do lixo midiático encontramos, ainda, compositores e trabalhos dignos de figurarem no rol das grandes obras musicais, pois se não lhes bastassem belas melodias, trazem poesia e um inconfundível lirismo em suas letras.
Foi através desse olhar que se deu a aula-show a que me referi. Dentre as músicas cantadas e comentadas, por Suzana e Nestrovski, vimos tesouros de artistas como Chico Buarque, Tom Jobim, Paulinho da Viola, Zé Miguel Wisnik, Caetano e outros, mostrados com a sensibilidade com que Suzana Salles nos brindou, e a profundidade da análise e comentários das letras enquanto poesia, por parte de Nestrovski. Esse conjunto valeu-nos uma noite inesquecível e o sentimento de que será preciso muito tempo para que tudo, erudito ou popular, seja apagado pela poeira dos anos.
Otimista que sou, mais ainda por assistir a um espetáculo de tal nível, guardo a esperança de que as pessoas acordem a tempo de evitar que tais tesouros sejam levados pelo tempo e se transformem em remotas memórias.