CAMINHOS DE PAPEL

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

NÃO DEU NO N.Y. TIMES

Tampouco deu no Le Monde, no Herald Tribune ou no Der Spiegel. Deu aqui mesmo, na Folha de São Paulo, numa página inteira de colunismo social, com o título “Elite aprende a esconder o ouro”. Só para vocês entenderem, descrevo abaixo alguns dos tópicos dessa matéria e, dentro do possível, explicando-os:

Bolsas mutiladas”: uma empresária paulistana tirou o logo metálico de sua bolsa Dior, para não dar “bandeira” aos assaltantes. Candidamente, disse ter dado a pecinha a uma amiga, para que a colocasse em uma bolsa pirateada, comprada na rua 25 de Março.
Que Deus abençoe alma tão magnânima.

Bolsa-esconderijo”: Um outro membro da realeza pré-cadafalso, ficou traumatizado ao ter roubado seu relógio Bulgari, de 20 mil reais (coisinha assim perto de 60 salários-mínimos) além de uma mala Luis Vuitton, de 10 mil. Comentário do barão, depois de uma tomada radical de decisão: “nunca imaginei que trocaria minha pasta Prada por uma bolsa da C&A para carregar meu notebook
Aprenderam, pobres fregueses dessa loja? Vocês eram felizes e não sabiam.

Remendo básico”: A patricinha Stefanne corta as etiquetas de suas roupas Diesel, Dolce & Gabana e outras, para colar um adesivo por cima das originais. Mas mantém a pose: “Meu brinco de brilhantes é da Tiffany, mas que vê pensa que é bijuteria, por causa do restante do meu visual”.
Garota ixxperta, diriam os manos do Borel.
A colunista ainda outras dicas interessantes, orientando seus leitores a se resguardarem contra a violência:“Não coloque no vidro do carro adesivos que denotem alto poder aquisitivo, como por exemplo, 'Sou criador de Mangalarga'.
Minha dica é: adesivos só os do tipo “é nóis na fita “ ou “nóis capota mais nóis não pára”.

Outra: “Ao entrar no carro verifique se há chiclé colado no pára-brisa. Se houver, trata-se de dica para o motorista ser assaltado no semáforo seguinte.
Relaxem; cagada de passarinho tá liberada.
Deu para rir um pouco? Eu estou rindo desde ontem.
Para não chorar.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

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“Sábado à noite fui ao SESC Pompéia assistir a uma homenagem a Chico Buarque. A música de encerramento foi “Meus caros amigos”, cantada por Zizi Possi, Miúcha, MPB4, Renato Brás.
Alguém lembra em que época e sob quais circunstâncias ela foi criada? Aí vai um trechinho dela: " ... o que eu posso lhe dizer é que a coisa aqui ta... preeeta”.
Mudou o cenário, mas o circo é o mesmo”.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

VIVER É ARRISCADO



Quem já não perseguiu um sonho? Muitos de nós? Todos, talvez? A verdade é que, também muitos de nós, muitas vezes paramos pelo caminho para reavaliarmos o trajeto, tentamos medir as conseqüências e, mesmo antes de nos certificarmos se estávamos fazendo o certo, desistimos.
Uma busca pressupõe obstáculos. O bom-senso, sempre ele, nos orienta a procurar algo dentro de parâmetros que as convenções, mais do que aquele juízo das coisas, têm como normas a serem seguidas, atitudes e pensamentos incostestáveis pelo seu pragmatismo na medida em que não deixam espaço para críticas.
Nesse último fim de semana, aconteceria num bairro da zona sul de São Paulo, um show de um grupo musical juvenil, para mim até então totalmente desconhecido mas, para muitos adolescentes e crianças, “da hora”, usando uma terminologia da garotada.
A imprensa registrou a tragédia que se deu graças a incúria dos organizadores e a incompetência das autoridades: três mortos, muitos feridos e um sonho pisoteado no pátio de estacionamento de um shopping.
Num primeiro momento, admito, critiquei a falta de bom-senso (sempre ele) dos jovens, totalmente incapazes de terem o discernimento de perceber o risco que tal improvisação acarretava.
Mas, parando para pensar, percebi ser um sonho o que aquela multidão juvenil perseguia, tal como o garoto que conseguiu juntar trinta reais para vir de Piracicaba, ou então a jovem mãe, com seu filho de um ano no colo, que viajou oito horas para conhecer pessoalmente ídolos que nós, adultos ditos sensatos, deixamos há muito de ter. Centenas, milhares, estabeleceram seu objetivo mirando num momento mágico de suas vidas e arriscaram.
Neruda disse num de seus poemas que morre lentamente quem não arrisca o certo pelo incerto, para ir atrás de um sonho. Morre lentamente, concluiu, quem não se permite, ao menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Os adolescentes pagaram a mão dessa rodada de cartas mas, na vida, joga-se para ganhar ou para perder. É mais do que ficar assistindo a tudo do lado de fora sem poder dizer que, pelo menos um dia, arriscou viver.